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Deficiente visual, fotógrafo João Maia mostra algumas de suas fotos feitas na Paralimpíada
Foram duas semanas incríveis, com muita superação, provas emocionantes e momentos inesquecíveis na Paralimpíada do Rio, alguns deles clicados pelo fotógrafo João Maia, deficiente visual.
Você já viu algumas das imagens de João, feitas em eventos testes meses atrás, e publicadas no Metro Jornal dia 6/7, incluindo uma entrevista. Agora, é hora de acompanhar o resultado de sua cobertura dos Jogos no Rio, uma intensa experiência que, segundo próprio fotógrafo, vai ficar para sempre em sua memória.
“Um dos momentos que mais gostei foi do Futebol de 5 , com uma arena espetacular, com o público gritando e explodindo na hora do gol. Foi uma coisa única. Não vou esquecer jamais dessa experiência. Aqui, as sensações ficam afloradas. Na Paralimpíada só tem energia positiva.
Fonte: Metro
João Maia, fotógrafo piauiense cego, clica a Rio-2016 com a ajuda do som
O fotógrafo piauiense João Maia, 41, trabalhou durante a Paraolimpíada inteira, mas não viu nada. Cego, tem chamado a atenção do público ao circular pelo estádio carregando a câmera em uma mão e uma bengala na outra.
Maia vê apenas vultos de cores, então trabalha com a ajuda de colegas, que miram a câmera a partir de instruções dele. O momento do clique é decidido com base em outros estímulos, como o som.
No atletismo, modalidade que mais fotografou, conta também com sua experiência no esporte, que praticou por anos depois que ficou cego, aos 28. “Sei quando as coisas importantes acontecem”, diz.
Suas fotos são reconhecíveis por registrarem os mesmos momentos que as de outros fotógrafos, mas de ângulos diferentes.
Maia é afeito à fotografia desde os tempos do Ensino Médio, que cursou em uma escola técnica em sua cidade, Bom Jesus (PI), de 22 mil habitantes. Chegou a fazer cursos por correspondência. Formado, rumou para São Paulo, onde parte de seus dez irmãos já viviam. Virou carteiro, sem parar de fotografar.
“Não sou um profissional, não tenho a pretensão de dizer que minhas fotos são maravilhosas, mas sou um apaixonado. Se as minhas fotos te sensibilizam de alguma forma, isso já basta para mim.”
Foi ficando cego aos poucos, após contrair uma uveíte, doença inflamatória nos olhos. Aposentado por invalidez, ingressou na faculdade de história com uma bolsa de atletismo e passou a fotografar competições do circuito paradesportivo.
“Não sou o único fotógrafo cego, tem um bando por aí, mas sou o primeiro a fazer uma Paraolimpíada, o único com essa experiência”, diz.
Foi parar na Paraolimpíada pelo projeto Mobgraphia, que reúne diversos fotógrafos com deficiência para produzir documentário e livro ao final da cobertura.
O grupo trabalha exclusivamente com fotos de celular. Maia publica as suas no Instagram. As legendas são sempre descritivas e seguidas pelo hashtag #pracegover.
Com programas de leitores de tela, deficientes visuais conseguem ouvir uma leitura do conteúdo, e assim podem “ver” as fotos de Maia.
“Alguns momentos do esporte são difíceis de registrar até para nós, fotógrafos ‘normais’. Ele pega muitos deles. Isso é muito impressionante. Aí vem a sensibilidade. Não se aprende a ser fotógrafo, ou você é ou não é. E o João é”, diz o colega Ricardo Rojas.
Em meio à aglomeração de fotógrafos que fazem o registro de imagens da Paralimpíada Rio 2016, João Maia chama a atenção de todos. Ao contrário dos outros profissionais, ele é cego. Com o auxílio da audição e da tecnologia, ele prova ser capaz de exercer com maestria a profissão que escolheu, apesar da limitação. “Fotografia é sensibilidade”, ele afirma. (veja o depoimento dele no vídeo acima)
João ficou cego em 2004, aos 28 anos, em decorrência de um caso grave de uveíte bilateral – uma inflamação na camada média do globo ocular. Ele não enxerga com o olho direito, que sofreu descolamento de retina. Já o olho esquerdo tem uma lesão no nervo ótico, além de glaucoma. Clinicamente cego, ele só é capaz de enxergar vultos coloridos à uma distância de até um metro.
Por causa do problema ocular, João faz tratamento periódico no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele começou a fotografar quatro anos depois de ficar cego.
“A audição me ajuda e o contraste de cores me facilita”, explicou João sobre o desafio de fotografar sem enxergar. Ele opera uma câmera profissional com o auxílio de um telefone celular que possui comandos de voz e o indica onde está cada comando do equipamento.
“As pessoas me perguntam se faz diferença fotografar com uma câmera ou com um celular. Mas o que faz a diferença é quem está por trás do equipamento. Como você compõe a foto, imagina a foto. Tudo isso passa pela minha cabeça”, revelou.
Superação
Nascido na cidade de Bom Jesus, no Piauí, João Maia se mudou para São Paulo há 20 anos em busca de melhores condições de vida. Na capital paulista, ele concluiu o curso técnico em agropecuária. O sonho de ingressar numa faculdade só foi realizado após o problema de saúde que lhe tirou a visão.
“É engraçado como a vida traça caminhos diferentes. Eu só concluí o curso de licenciatura em história depois que eu fiquei deficiente visual, aos 33 anos. Por isso que eu digo: nunca é tarde para voltar e começar”, destacou João, que ingressou no ensino superior graças a uma bolsa de estudos para atletas.
Acostumado a fotografar eventos esportivos, participar da Paralimpíada é o ponto alto da carreira de João Maia. As competições de goalball e futebol de cinco são suas favoritas.
“Todo mundo tem que ficar em silêncio, aí a gente tem que ouvir o guizo da bola. Aí é perfeito para fotografar, porque eu vou seguindo o som com o guizo e tem o contraste das cores, o que proporciona uma imagem de qualidade”, contou João.

João Maia faz registro do ciclismo na Paralimpíada (Foto: Reprodução / Instagram)

João Maia faz registro durante Paralimpíada (Foto: Reprodução / Instagram)

Maia fez registro do nadador brasileiro Daniel Dias durante Paralimpíada (Foto: João Maia/Divulgação)

Fotógrafo fez registro dos Agitos Paralímpicos da Rio 2016 (Foto: Reprodução/ Internet)
João Batista, 41 anos, será o primeiro fotógrafo cego a cobrir uma Paralimpíada. O paulistano, que aos 28 anos perdeu a visão por causa de uma uveíte bilateral (inflamação do globo ocular), hoje recorre à fotografia como forma de “enxergar” o mundo.
Na juventude ele foi atleta e treinou para participar das Olimpíadas, praticava lançamento de peso, dardo e disco. Mas foi na fotografia que se encontrou. Por meio de cursos, João aprendeu a utilizar as tecnologias do aparelho celular para o direcionar em cada cena por comando de voz.
Como já tinha familiaridade com o esporte, ficou mais fácil se especializar nessa editoria e hoje cobre eventos na área. Segundo ele, o primeiro objetivo já foi alcançado, o de cobrir as Paralimpíadas, o segundo é criar uma exposição acessível com suas fotos e mostrar que “a deficiência não é um fim e sim um começo de uma nova vida”.
Fonte Revista D+