Posso ver além dos olhos
Os Jogos Paralímpicos tem um cenário completo não só de atletas com deficiência, mas, de profissionais técnicos, público e inclusive profissionais de imprensa com deficiência. Pessoas que encontram no evento o seu espaço, os seus heróis e suas oportunidades, que o mundo “sem deficiência” restringe. E o melhor de tudo isso é a competência que incomoda. Ao pensarmos que um atleta sem as duas pernas está a 2 segundos de diferença do tempo do melhor velocista do mundo Usain Bolt. Ou, que a mesatenista polonesa Natalia Partyka, de 24 anos, que nasceu sem a mão e parte do antebraço direito, é uma das dez atletas do mundo a combinar participações nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, vemos que tudo é possível para quem quer.
Neste cenário de pessoas com capacidades sensacionais, encontramos o fotógrafo que não vê. João Batista Maia da Silva perdeu a visão aos 28 anos, devido uma Uveite bilateral. Restou-lhe enxergar vultos e perceber cores. Nada mais. Porém sua persistência o fez um profissional de fotografia e será o único fotógrafo brasileiro com deficiência visual a cobrir os Jogos Paralímpicos, Rio 2016.
Nascido em Bom Jesus do Piauí, em 23/11/74, assim que perdeu a visão, João se envolveu com o Movimento paralímpico. Foi atleta de arremesso de peso e lançamento de dardo e disco, durante sete anos. “Isso me agregou muito. Deu a base de cada prova para saber a expressão do atleta, o que ele tem que fazer em determinada situação numa prova de 100, 400 e outras. Isso faz a diferença. Cada sentimento do atleta eu sei. O que importa pra mim é que em um dado momento da prova eu sei o que vou captar do atleta”, disse.
Depois, decidiu-se pela fotografia, fez o Curso Livre de fotografia para pessoas com deficiencia visual (2008 a 2012), no MAM (Museu de Arte Moderna) em São Paulo; Curso de fotografia para deficientes visuais (2015), na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2015)
Com toda experiência, entrou para o projeto Mobigraphia em parceria com o fotógrafo cadeirante Vitor Wang, para clicar pelo celular os melhores momentos dos Jogos. “O celular me dá a possibilidade de configurar a câmera, obturador, diafragma, abertura, através de um talkback, editor de tela. Assim eu etiqueto balanço de branco, obturador. Na câmera não tem acessibilidade eu fotografo com o instinto mesmo”, explicou João. Mas a câmera de alta potência também é sua companheira, que com disparador automático ele consegue flagrar as provas de velocidade, por exemplo.
Fonte: Guia do Deficiente Brasil
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